segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Um céu estrelado,ou um teto pintado?

    Olhar para o teto de meu quarto,era como olhar de longe,o céu.Eu olhava fixamente o teto dourado,com desenho de estrelas,um pedido meu quando pequena,ele me fazia escapar um pouco da realidade,eu me sentia no céu ao olhar para ele.O comodo nada aconchegante, frio e todo de mármore me tirava mais ainda a vontade de levantar,quanto mais de viver.
    De olhos fechados questionava minha própria existência.Qual era o meu papel no mundo?Certamente, não,um casamento por troca de interesses.Eu mal tinha visto o mundo!Meus pais certamente fizeram um bom trabalho escondendo-o de mim.Passei toda a minha infância presa neste imenso casarão,tantos cômodos,há cômodos que até hoje eu desconheço.Aulas de etiqueta,aulas de piano,de literatura,poesia...
    Meu momento de reflexão foi interrompido pelas duas serviçais que entraram de forma triunfante em meu quarto,arrancando a coberta de mim.Resisti.Foi inútil porém,porque as duas me puxaram pelo braco me fazendo cambalear em pé.
    Fiquei ali,parada em pé,enquanto elas me vestiam com inúmeras camadas de roupas.Respirava com dificuldade devido ao corpete extremamente apertado.
    ''Sente-se'',uma delas ordenou como se eu fosse uma máquina ou algo assim.Agora penteavam meus longos cabelos negros.Isso levou alguns minutos até elas os trancarem.
    Me levantei da dura poltrona e me olhei no espelho.Eu reconhecia a imagem no espelho,eu era aquela pessoa,aquela pessoa que minha mãe sempre quis que eu fosse.Uma menina de quinze anos de idade em um vestido de noiva.
    ''Vamos,está na hora'',falou uma das serviçais.Desci as escada que não parecia ter fim.Chegando no enorme corredor,que mais se parecia com um corredor da morte.Lá estava meu pai na porta que dava para o jardim,esperando por mim ,ou melhor,esperando  pelo meu braco,para me levar até o altar.
    Meu pai recebeu meu braco com um sorriso amarelo.Abriu a porta.O jardim estava todo decorado,agora,todos os convidados olhavam para mim e eu podia ver o rosto de meu futuro marido,que parecia ainda mais assustado do que eu,ele era só um menino.Virei,e olhei pela ultima vez a casa onde fiquei presa todos esses anos.Adeus mundo,adeus liberdade.

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