terça-feira, 28 de agosto de 2012

O caminhoneiro

    Sou um grande viajador,conhecedor do mundo.Já vi e já conheci todo o tipo de gente.Nunca consegui me prender em lugar nenhum,nem a mulher nenhuma.
    Enquanto a maioria das pessoas consideram seu lar,um lugarzinho fechado a quatro paredes com uma família para recebe-los ao chegar do trabalho,eu considero a estrada o meu lar.Ao sentir o vento soprando da janela de meu caminhão,percorrendo meu rosto,beijando meus cabelos,ai sim,sei que estou em casa.
    Certa vez,algo muito curioso me aconteceu.Desta vez,estava passando pela cidadezinha de Garanhuns.Foi em uma de minhas frequentes paradas para almocar em pequenos bares de estradas que avistei uma mulher chorando.Aquilo me deixou intrigado,geralmente,no meio de minhas refeicoes,conheco pessoas bacanas,boa gente mas nao desta vez,desta vez comia minha comida requentada em silencio sentado na mesa do canto do bar.
    Resolvi entao ser espontâneo,deixei minha comida de lado,levantei e fui falar com a tal moca.''Desculpe moca,está tudo bem com a senhora?''perguntei.Ela nao respondeu,só ficou me olhando,com olhos de curiosidade.''Nao pude notar que estava chorando''insisti.''Oh senhor,nao queira conhecer tanta tristeza.Acabei de descobrir que meu marido está vivendo com outra.Ele sempre viaja a Sao Paulo,por causa do trabalho.Hoje recebi um telefonema de minha prima,dizendo que durante 6 meses ele tem ficado na casa da outra,tudo pelas minhas costas moco!Tenho três filhos dele! Três!''a mulher que me parecia ser simples,estava revoltada,lágrimas cairam de seus olhos ao repetir a palavra.Fiquei assombrado,nao sabia o que responder.Haveria alguma resposta?Nao precisei.Ela respondeu por mim:''O senhor tem sorte,de ser caminhoneiro,eu digo.Vive na solitária,nao precisa conhecer tanta tristeza!''.
    Aquelas palavras sortiram como um golpe dentro de mim.Senti uma sensacao que nem eu mesmo sabia que era capaz de sentir.Até que seria bom ter uma família.Ter pessoas que seriam o motivo de voltar para casa.Que casa?
   Nao,nao.Engoli em seco,caminhei para fora do bar e entrei em meu velho caminhão.Dei a partida e comecei a dirigir.Suspirei e senti o vento percorrendo minha face.E ai eu sabia,estava em casa.
    

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